1809: Um ano após a chegada de D. João VI, criou-se a Secretaria de Polícia e foi organizada a Guarda Real de Polícia, sendo nomeado para sua chefia o major Nunes Vidigal, perseguidor implacável dos candomblés, das rodas de samba e especialmente dos capoeiras, "para quem reservava um tratamento especial, uma espécie de surras e torturas a que chamava de Ceia dos Camarões". O major Vidigal foi descrito como "um homem alto, gordo, do calibre de um granadeiro, moleirão, de fala abemolada, mas um capoeira habilidoso, de um sangue-frio e de uma agilidade a toda prova, respeitado pelos mais temíveis capangas de sua época. Jogava maravilhosamente o pau, a faca, o murro e a navalha, sendo que nos golpes de cabeça e de pés era um todo inexcedível".
1813: Moraes, na segunda e última edição que deu em vida de sua obra, Diccionario da Língua Portugueza, inclui também o vocábulo capoeira. Após isto, o termo entrou no terreno da polêmica e da investigação etimológica, envolvendo nomes como os de José de Alencar, Beaurepaire Rohan e Macedo Soares.
1821: Em carta dirigida ao ministro da Guerra, a Comissão Militar do Rio de Janeiro reclamava dos "negros capoeiras, presos pelas escolas militares, em desordens", e reconhecia "a necessidade urgente de serem eles castigados pública e peremptoriamente...".
1821: >>> Carta da Comissão Militar do Rio de Janeiro enviada para Carlos Frederico de Paula, Ministro da Guerra, requisitando o retorno dos castigos aos capoeiristas.
>>> Decisão de 31 de outubro: determinou sobre a execução de castigos corporais em praças públicas a todos os negros chamados capoeiras.
>>> Decisão de 5 de novembro: determinou providências que deveriam ser tomadas contra os negros capoeiras na cidade do Rio de Janeiro.
1822: >>> Decisão de 6 de janeiro: mandava castigar com açoites os escravos capoeiras presos em flagrante delito.
1824: >>> Decisão de 28 de maio: dava providências sobre os negros denominados capoeiras.
>>> Decisão de 14 de agosto: mandava empregar nas obras do dique os negros capoeiras presos em desordem, cessando as penas de açoites.
>>> Decisão de 13 de setembro: declara que a portaria de número 30 do mês de agosto compreende somente escravos capoeiras.
>>> Decisão de 9 de outubro: declara que os escravos presos por capoeiras devem sofrer, além da pena de três meses de trabalho, o castigo de duzentos açoites.
1826: O francês Debret retratou o Tocador de berimbau.
1828: Vez por outra, os capoeiras, freqüentemente chamados de desordeiros, assumiam o papel de heróis, como aconteceu no caso da revolta dos batalhões mercenários (irlandeses e alemães), que abandonaram seus quartéis (no Campo de Santana, São Cristóvão e Praia Vermelha) e promoveram uma carnificina, matando e saqueando. Conta J. M. Pereira que os "sublevados foram atacados por magotes de pretos denominados capoeiras, travando com eles combates mortais
1830: O alemão Rugendas, no livro Voyage Pittoresque et Historique dans le Brésil, retrata pela primeira vez o jogo de capoeira, em sua gravura Jogar capoeira ou Danse de la guerre.
"Jogar Capoeira ou Danse de Guerre", quadro de Rugendas, a mais antiga reprodução gráfica do jogo da Capoeira.
Eis as palavras de Rugendas: "Os negros têm ainda um outro folguedo guerreiro, muito mais violento, a capoeira: dois campeões se precipitam um contra o outro, procurando dar com a cabeça no peito do adversário que desejam derrubar. Evita-se o ataque com saltos de lado e paradas igualmente hábeis; mas, lançando-se um contra o outro mais ou menos como bodes, acontece-lhes chocarem fortemente cabeça contra cabeça, o que faz com que a brincadeira não raro degenere em briga e que as facas entrem em jogo, ensangüentando-a."
1831: Decisão de 27 de julho: manda que a junta policial proponha medidas para a captura e punição dos capoeiras e malfeitores.
1832: Postura de 17 de novembro: proibia o Jogo da Capoeira: "...trazem oculto em um pequeno pau escondido entre a manga da jaqueta ou perna da calça uma espécie de punhal..."..."tomam providências contra todo e qualquer ajuntamento junto às fontes, onde provocavam arruaças e brigas; próximo a Igreja do Rosário, no Largo da Misericórdia, onde à noite as mulheres de reuniam...".
1834: >>> Decisão de 17 de abril: solicita providências a respeito dos operários do arsenal de marinha que se tornarem suspeitos de andar armados (fez referência a uma acusação de assassinato feita contra um negro, e mencionou que já haviam sido dadas ordens ao chefe de polícia sobre os capoeiras).
>>> Decisão de 17 de abril: dá providências a respeito dos pretos que depois do anoitecer forem encontrados com armas ou em desordens.
>>> Postura de 13 de dezembro: dá mais providências contra os capoeiras.
1835: Pela primeira vez é retratado o jogo de capoeira pelo alemão Johann Moritz Rugendas no livro Voyage Pittoresque dans le Brésil com as gravuras "JOGAR CAPOEIRA ou Danse de la guerre" e "SAN SALVADOR".
1850: Data da abolição do tráfico negreiro, com a publicação da Lei Eusébio de Queirós.
1874: Uma malta de capoeiras da qual faziam parte Florentino, escravo de Manuel Joaquim Alves da Rocha, Zeferino, escravo, Luís José da Silva. Antônio Joaquim de Azevedo, e Maximiano, escravo de Antônio Correia de Sá Lobo, chegando na rua dos Ourives, esquina de São José, encontrou-se com outra com quem andava de rixa, travando-se desde logo uma luta desesperada, que obrigou os pacíficos transeuntes a fugir e algumas lojas a fechar. No conflito logo gravemente ferido e morreu pouco depois o escravo Oscar do Dr. Carlos Frederico Taylor, afamado capoeira da Glória. Ficaram feridos também e acham-se em perigo de vida Henrique da Conceição, escravo do Dr. César Farani, e Raimundo, escravo de Manuel Joaquim Alves da Rocha, com confeitaria no Largo do Capim
(Diário do Rio de Janeiro 9 março 1874)
1886: Plácido de Abreu Morais publica o romance Os Capoeiras, que focaliza os rituais inerentes à capoeiragem no Rio de Janeiro. No preâmbulo do romance, o autor transcreve um vocabulário da gíria que vigorava àquele tempo. Em nosso Dicionário da Capoeira, incluímos este vocabulário.
1888: Abolição da escravatura. Ex-escravos capoeiristas, não encontrando lugar na sociedade, caíram na marginalidade, levando consigo a capoeira. Na verdade, o período de marginalidade da capoeira começou muito antes, com a nomeação em 1809 do major Vidigal para a Guarda Real de Polícia, e paralelamente aos primeiros decretos (1814) que proibiam de um modo geral as manifestações negras.
1889: Proclamação da República, a 15 de novembro.
1890: Entra em vigor o Código Penal da República, que coloca a capoeira na ilegalidade. Doravante, "Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação de capoeiragem" acarretava pena de reclusão de dois a seis meses, constituindo circunstância agravante pertencer a alguma malta ou bando; "aos chefes ou cabeças", a pena seria imposta em dobro. Os reincidentes poderiam ter pena de até três anos; se fosse estrangeiro o capoeira, seria deportado após cumprir pena.
1890: >>> Decreto 847. Introdução da Capoeira no Código Penal da República, no Capítulo XIII "Dos Vadios e Capoeiras" em seus artigos 402, 403 e 404.
>>> Continuidade ao processo de prisão e deportação dos capoeiristas criminosos para o Presídio de Fernando de Noronha e para a Colônia Correcional de Dois Rios na Ilha Grande.
>>> Apesar dos capoeristas terem um papel heróico na Revolta dos Mercenários e na Guerra do Paraguai, o Governo Republicano instaurado em 1889 continuou a política de repressão à Capoeira do período Imperal, e em 1890 editou um decreto criminalizando a prática da Capoeira.
1897: O general Couto de Magalhães, ilustre etnógrafo brasileiro, diz, referindo-se à capoeira: "este modo de lutar é também aborígene, e, longe de ser perseguido, como é, devia ser dominado, regularizado em nossas escolas militares, porque um bom capoeira é um homem que equivale a dez homens ... Somos, não europeus ou africanos, e sim americanos, pelo sangue, inteligência, moralidade, língua, superstições, alimento, dança e lutas físicas".